A legislação laboral portuguesa estabelece que as empresas têm obrigatoriamente de garantir um mínimo anual de 40 horas de formação a cada colaborador. Apesar da lei ser de aplicação transversal, e portanto independente do sector de actividade e da dimensão das organizações, para muitas PME o cumprimento desta obrigatoriedade representa um desafio muito significativo. A falta de recursos financeiros e humanos, e, muitas vezes a inexistência de colaboradores dedicados à área da formação, são alguns dos principais obstáculos.
A falta de gestores de recursos humanos nestas organizações de menor dimensão, gera a acumulação de diversas responsabilidades nestes profissionais, levando à necessidade de prioritizar o que é mais importante para garantir as necessidades diárias do negócio, tornando a organização e planeamento da formação uma actividade secundária e sistematicamente adiada.
Por outro lado, a maioria destas empresas mais pequenas têm orçamentos muito reduzidos, o que dificulta o acesso à formação dita formal ou mais “tradicional”, que por ser presencial ou assente em formatos mais estruturados, é normalmente bastante dispendiosa e necessita de mais tempo para ser realizada, o que é muitas vezes encarado também como um diminuidor da produtividade.
A inovação e o desenvolvimento tecnológico a que temos assistido e participado nos últimos anos, tem criado um autentico mundo novo de oportunidades no meio empresarial, facilitando e inovando os processos de forma transversal nas organizações, e em particular na área da formação. Neste âmbito a tecnologia tem permitido o surgimento de uma infinidade de novas soluções digitais, especificamente para a aprendizagem e desenvolvimento pessoal, que por serem cada vez mais numerosas, diversas e eficazes, são também economicamente acessíveis para empresas de todas os sectores e dimensões.
Em particular para as PME, este “mundo novo” veio abrir uma série de possibilidades que as ajudam a resolver muitas das contrariedades referidas anteriormente, e nalguns casos até eliminá-las por completo. A tecnologia que existe actualmente permite não só proporcionar a formação necessária aos colaboradores, mas também disponibilizar os conteúdos formativos que lhes são mais relevantes, individual e colectivamente, o que significa também, do ponto de vista de quem gere a actividade, uma necessidade menor de recursos e de tempo de implementação.
A introdução da Inteligência Artificial (IA) veio acrescentar nesta vertente um valor incontestável, automatizando a seleção, identificação e recomendação de conteúdos de forma inteligente, e até mesmo a própria criação de cursos ou outros formatos, e o desenho de percursos formativos individuais para os colaboradores, passaram a ser actividades ao alcance de qualquer empresa.
A IA não só veio acelerar e agilizar os processos associados à formação, como traz também novas possibilidades, nomeadamente na individualização das ofertas formativas, algo que não só é mais eficiente do ponto de vista de quem aprende - pessoas diferentes têm necessidades e objectivos de formação diferentes -, como gera também mais satisfação e adesão por parte dos colaboradores.
A terminar, e em jeito de conclusão, acredito sinceramente que o acesso generalizado das PME a soluções digitais de formação, e a respectiva implementação das melhores práticas ou iniciativas nesta matéria, contribuirão fortemente para a disseminação de uma verdadeira cultura de aprendizagem de forma transversal ao tecido empresarial Português. Apenas assim será possível encarar na prática, a formação como sendo uma actividade essencial ao desenvolvimento dos colaboradores e ao crescimento das empresas, deixando esta de ser vista como algo que deve ser feito “meramente” porque a lei assim obriga. Neste ponto em particular será uma vitória em duas frentes, pois para além dos ganhos conseguidos na própria valorização das pessoas, será a tecnologia e a utilização das soluções digitais que a incorporam, a verdadeira solução para o dilema que muitas PME (e não só) têm no nosso país: cumprir o mínimo legal obrigatório de disponibilizar 40 horas de formação anula, a cada colaborador, ano após ano.
Pedro Costa Santos
Head Marketing & Sales
Co-founder Learninghubz